Por Jonas Lewis
Sei que não haverá de cessar as infinitas e intragáveis manifestações lotadas de fotografias e convocações para que doemos, compartilhemos ou ajudemos. Todavia sinto a cabeça borbulhando e as mãos inquietas frente ao que aborrece não só a mim, mas a tantos outros que conheço e que utilizam a rede social para o que ela realmente deveria servir. E cá não estou para dizer-lhes como devem ministrar seus twitter’s ou facebook’s. Diferente disso, vim contar-lhes como estão valendo dessa ferramenta tão divertida, doentia e incerta.
Todos os dias encontro uma foto cruel. Mutilações, síndromes, anomalias, torturas, doenças, desgraças, imagens que jorram infelicidade, vicissitude e depressão. Compartilhar a crueldade, a desgraça, a feiúra, de alguém que não se conhece, ou mesmo de um íntimo, com o álibi de ser “bom”? A desculpa de ajudar compartilhando imagens? Seres agradecidos pela aparição de um veículo onde se possa publicar fotos de mutilados, sindrômicos, injustiçados e doentes. Isso é o que posso ver. Os que trabalham, os que dedicam-se, que fazem parte de sua vida a vida desses enfermos, condenados, aleijados e infelizes, esses sim, têm sua verdadeira “rede social”, e “compartilham”, “dividem” e dividem-se para que alguns com menos sorte possam viver dignamente.
Dirão eu sei, que muito já foi feito, via internet. Que muito já foi doado, que muito foi arrecadado, adotado, conseguido. Direi, mais uma vez. O que ocorre todos os dias em redes sociais é “maldade humana”. Nada mais do que isso. Cruzar um acidente na auto-estrada e ter a coceira de querer avistar o morto. Compartilhar é uma ótima palavra. Estão compartilhando suas desgraças, suas vidas aguadas, sua depressão, seus relacionamentos infernais ou o inferno de uma solidão silenciosa. Usam a desgraça alheia para aquietar a própria alma que pede solidariedade. Doam um pedaço de ferro a um pobre mendigo sem fome. É a maldade fantasiada num carnaval que já perdeu a graça, que não me anima há muito tempo. Mutilações, animais torturados, crueldade, crianças com doenças degenerativas, anomalias, tudo isso “compartilhado”! Que exemplo de civilidade! Que bondade trazemos no peito, sentados nas cadeiras de nossos escritórios, nos sofás de nossas casas ou em nossas camas inundadas de verdade. Pois quando dormindo, nos mexemos, de nossa pele caem todas as realidades que escondemos no facebook.