Loneliness

Filmado e editado por Gabriel Franco.

Trilha de Sound Design por Jonas Lewis.

 

Manifesto pela realidade do sexo

                                                                                                                         Jonas Lewis

    Há tempos atrás algum pedaço de perna era motivo de gozo. Catálogos rebuscados das antigas lojas de lingeries eram a diversão de adolescentes punheteiros. Hoje um rabanete no cu é a normalidade. As esporradas e a penetração de inimagináveis objetos são corriqueiros pelos vídeos que circulam na internet e nas lojas de filmes pornográficos. A mulher toma uma posição absolutamente escrava e o homem faz o que bem entende no momento mágico do ato sexual. A pornografia deturpa a realidade cruel e precisa do sexo comum. E por mais selvagem que se possa praticá-lo, ainda assim os filmes estão longe de se parecerem com a prática do mundo real. Se tentares algo parecido com sua namorada, certamente a relação durará pouco. E calma lá! Não confunda um sexo monótono e sem graça, com um sexo normal, comum, diferente sim daquele sexo circense, quase coreografado dos filmes adultos.

    Assim foi comigo no momento em que descobri o que era o boquete. Anteriormente passava-me pela cabeça que soavam trombetas e que não haviam as raspadas dentárias, tampouco aquela sensação de monotonia quando a mulher também se cansava de chupar-me como tarefa. Nos filmes era tudo tão espetacular! As mulheres deliravam com aquele momento, os homens bufavam como bois, parecendo visitar estrelas ao receberem aquelas chupadas monumentais, molhadas e lubrificadas. Tudo efeito especial! E as gozadas, então? No rosto! Ou dentro da boca, à pedidos da moça, que sedenta implorava pelo líquido prestes a ser engolido por inteiro. Balela! Bem vindos ao mundo real! Esporre na droga da camisinha, quiçá na bunda, nos peitos, mas cuidado com os cabelos da menina! Na boca nem pensar! Se contar as que deixaram, não somam um par durante toda a vida. Ingratas exceções comparadas à rotina delirante do cinema pornô.

    O cu, famoso cu! Esse sim mais apreciado por algumas mulheres, é a única salvação! O mais próximo que chegamos da cena. Tentemos então chegar aos cus! E deixo um apelo para o bem dos futuros homens. Não deixem seus filhos assistirem filmes pornográficos! Não por uma questão moral ou religiosa, mas pelo simples fato de que eles serão enganados por completo. Suas vidas sexuais serão arruinadas para sempre, e nenhuma terapia terá sucesso nessa batalha sem volta. Recortem os anúncios das Lojas Marisa, guardem os folhetos da coleção primavera verão da Renner e deixem em seus banheiros. Não à internet, não aos filmes pornográficos! Seus filhos merecem aproveitar o sexo! Seus filhos merecem conhecer o verdadeiro boquete!

Eu sangro poesias baratas

 

Giovanni Andersen Garcia

Perder-se é o ato mais “natural” de nós humanos. Conter seu fluxo é nosso maior erro. Sei que meu corpo é fluido e que escorro pela vida, ocupando frestas, erosando a terra. As dúvidas são como jarras que aprisionam nosso fluir, alteram nossas margens. São barragens no nosso destino de homem. Quero não resistir a você. Meu peito está aberto. Vem ocupar-me com tua vida! Abandono os remos e deixo que o fluxo me conduza na tormenta do amor, cambiando dia e lua, noite e sol,  namorando a chuva e desenhando em minha memória seu rosto. Fecho os olhos e você está aqui. Quando olho para o sol que surge por trás das tímidas nuvens revelo-te meu sorriso no arco-íris que coroa o encontro de dois – sol e chuva juntos a fazer vida. Que venha mais… vida que me atravessa o corpo e rasga minha alma. Eu sangro poesias baratas.

Sem “bla”, sem “mas”, sem “se”.

Tu mastiga com a boca aberta,

é machista e egocêntrico.

Porém, nada me enerva

como os sentidos que tu nega.

                                                        [Não podemos ter trégua?]

Afirma que não tem paladar,

que a sociedade não é azeda.

E por falta de olfato                       [e de opção],

não cheira a corrupção.

                                                        [Mas e se me negarem o pão?]

Nada vê com clareza,

sem de outros a influência.

Sempre não. Não mudar,

não criticar, não testemunhar.

                                                         [E se minha família se machucar?]

 D’accord, d’accord!

Sem “bla”, sem “mas”, sem “se”.

Sei que uma surdez súbita te ataca

quando gritam as que chama de fraca.

                                                           [Tu não entende, não percebe.

                                                            E se me publicarem responsável?

                                                            Se apagarem meu nome, minha história?

                                                            Se me tratarem como escória?]

Então,

serás livre.

Livre.

                                                           [Livre.]

Por Janaína Bordignon

Ah, estatísticas…

Recebemos o resumo do blog por email (apesar de nem saber que isso ocorria!!!) e resolvemos dividir com todo mundo que passou por aqui no ano passado. Alguns seguem, outros são leitores ocasionais.. Nós seguimos, às vezes mais rápidos, em outras trancando as pernas, mas sempre dispostos a dividir o que acharmos de interessante por aí com quem passar por aqui.

 

Um beijo do Bloco

Aqui está um resumo:

The concert hall at the Sydney Opera House holds 2,700 people. This blog was viewed about 9.600 times in 2011. If it were a concert at Sydney Opera House, it would take about 4 sold-out performances for that many people to see it.

Clique aqui para ver o relatório completo

FELIZ NATAL!

 

 

 

Eu, Etiqueta

Em minha calça está grudado um nome

que não é meu de batismo ou de cartório,

um nome… estranho.

Meu blusão traz lembrete de bebida

que jamais pus na boca, nesta vida.

Em minha camiseta, a marca de cigarro

que não fumo, até hoje não fumei.

Minhas meias falam de produtoque nunca experimentei

mas são comunicados a meus pés.

Meu tênis é proclama coloridode alguma coisa não provada

por este provador de longa idade.

Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,

minha gravata e cinto e escova e pente,

meu copo, minha xícara,

minha toalha de banho e sabonete,

meu isso, meu aquilo,

desde a cabeça ao bico dos sapatos,

são mensagens,

letras falantes,

gritos visuais,

ordens de uso, abuso, reincidência,

costume, hábito, premência,

indispensabilidade,

e fazem de mim homem-anúncio itinerante,

escravo da matéria anunciada.

Estou, estou na moda.

É doce estar na moda, ainda que a moda

seja negar a minha identidade,

trocá-la por mil, açambarcando

todas as marcas registradas,

todos os logotipos do mercado.

Com que inocência demito-me de ser

eu que antes era e me sabia

tão diverso de outros, tão mim-mesmo,

ser pensante, sentinte e solidário

com outros seres diversos e conscientes

de sua humana, invencível condição.

Agora sou anúncio,

ora vulgar ora bizarro,

em língua nacional ou em qualquer língua

(qualquer, principalmente).

E nisto me comprazo, tiro glória

de minha anulação.

Não sou – vê lá – anúncio contratado.

Eu é que mimosamente pago

para anunciar, para vender

em bares festas praias pérgulas piscinas,

e bem à vista exibo esta etiqueta

global no corpo que desiste

de ser veste e sandália de uma essência

tão viva, independente,

que moda ou suborno algum a compromete.

Onde terei jogado fora

meu gosto e capacidade de escolher,

minhas idiossincrasias tão pessoais,

tão minhas que no rosto se espelhavam,

e cada gesto, cada olhar,

cada vinco da roupa

resumia uma estética?

Hoje sou costurado, sou tecido,

sou gravado de forma universal,

saio da estamparia, não de casa,

da vitrina me tiram, recolocam,

objeto pulsante mas objeto

que se oferece como signo de outros

objetos estáticos, tarifados.

Por me ostentar assim, tão orgulhoso

de ser não eu, mas artigo industrial,

peço que meu nome retifiquem.

Já não me convém o título de homem.

Meu nome novo é coisa.

Eu sou a coisa, coisamente.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova Reunião: 23 livros de poesia – volume 3. Rio de Janeiro: BestBolso,2009. p 471-473.

Manoel em doses homeopáticas

 

 

Aos blocos semânticos dar equilíbrio. Onde o abstrato entre, amarre com arame. Ao lado de um primal deixe um termo erudito. Aplique na aridez intumescências. Encoste um cago ao sublime. E no solene um pênis sujo.

Manoel de Barros

Compartilhando maldade

Por Jonas Lewis

Sei que não haverá de cessar as infinitas e intragáveis manifestações lotadas de fotografias e convocações para que doemos, compartilhemos ou ajudemos. Todavia sinto a cabeça borbulhando e as mãos inquietas frente ao que aborrece não só a mim, mas a tantos outros que conheço e que utilizam a rede social para o que ela realmente deveria servir. E cá não estou para dizer-lhes como devem ministrar seus twitter’s ou facebook’s. Diferente disso, vim contar-lhes como estão valendo dessa ferramenta tão divertida, doentia e incerta.

Todos os dias encontro uma foto cruel. Mutilações, síndromes, anomalias, torturas, doenças, desgraças, imagens que jorram infelicidade, vicissitude e depressão. Compartilhar a crueldade, a desgraça, a feiúra, de alguém que não se conhece, ou mesmo de um íntimo, com o álibi de ser “bom”? A desculpa de ajudar compartilhando imagens? Seres agradecidos pela aparição de um veículo onde se possa publicar fotos de mutilados, sindrômicos, injustiçados e doentes. Isso é o que posso ver. Os que trabalham, os que dedicam-se, que fazem parte de sua vida a vida desses enfermos, condenados, aleijados e infelizes, esses sim, têm sua verdadeira “rede social”, e “compartilham”, “dividem” e dividem-se para que alguns com menos sorte possam viver dignamente.

Dirão eu sei, que muito já foi feito, via internet. Que muito já foi doado, que muito foi arrecadado, adotado, conseguido. Direi, mais uma vez. O que ocorre todos os dias em redes sociais é “maldade humana”. Nada mais do que isso. Cruzar um acidente na auto-estrada e ter a coceira de querer avistar o morto. Compartilhar é uma ótima palavra. Estão compartilhando suas desgraças, suas vidas aguadas, sua depressão, seus relacionamentos infernais ou o inferno de uma solidão silenciosa. Usam a desgraça alheia para aquietar a própria alma que pede solidariedade. Doam um pedaço de ferro a um pobre mendigo sem fome. É a maldade fantasiada num carnaval que já perdeu a graça, que não me anima há muito tempo. Mutilações, animais torturados, crueldade, crianças com doenças degenerativas, anomalias, tudo isso “compartilhado”! Que exemplo de civilidade! Que bondade trazemos no peito, sentados nas cadeiras de nossos escritórios, nos sofás de nossas casas ou em nossas camas inundadas de verdade. Pois quando dormindo, nos mexemos, de nossa pele caem todas as realidades que escondemos no facebook.

PC Siqueira: Fama e Sucesso

A primeira parte do vídeo tá valendo (dica: assistam até 6 minutos). Depois disso, já não era mais o que a gente queria postar… (na preguiça do corte, segue o aviso! kkkkk)

Criança, a alma do negócio

 Criança, a alma do negócio (Brasil)

Por que meu filho sempre me pede um brinquedo novo? Por que minha filha quer mais uma boneca se ela já tem uma caixa cheia de bonecas? Por que meu filho acha que precisa de mais um tênis? Por que eu comprei maquiagem para minha filha se ela só tem cinco anos? Por que meu filho sofre tanto se ele não tem o último modelo de um celular? Por que eu não consigo dizer não? Ele pede, eu compro e mesmo assim meu filho sempre quer mais. De onde vem este desejo constante de consumo?Este documentário reflete sobre estas questões e mostra como no Brasil a criança se tornou a alma do negócio para a publicidade. A indústria descobriu que é mais fácil convencer uma criança do que um adulto, então, as crianças são bombardeadas por propagandas que estimulam o consumo e que falam diretamente com elas. O resultado disso é devastador: crianças que, aos cinco anos, já vão à escola totalmente maquiadas e deixaram de brincar de correr por causa de seus saltos altos; que sabem as marcas de todos os celulares mas não sabem o que é uma minhoca; que reconhecem as marcas de todos os salgadinhos mas não sabem os nomes de frutas e legumas. Num jogo desigual e desumano, os anunciantes ficam com o lucro enquanto as crianças arcam com o prejuízo de sua infância encurtada. Contundente, ousado e real este documentário escancara a perplexidade deste cenário, convidando você a refletir sobre seu papel dentro dele e sobre o futuro da infância.

Direção: Estela Renner

Produção Executiva: Marcos Nisti

Maria Farinha Produções

Maiores informações em:

http://www.alana.org.br/doc.3gp

 

Fonte original: http://www.alana.org.br/CriancaConsumo/Biblioteca.aspx?v=8&pid=40

George Carlin: Os dez mandamentos

Esqueça o filtro solar e acredite no conhecimento

Andávamos meio sumidos. Voltando aos poucos, mas com todo gás! 😉

Esqueça o filtro solar e acredite no conhecimento é o primeiro curta-metragem da SUPER e traz 12 conselhos científicos para uma vida mais interessante.
Acredite no conhecimento. Enxergue SUPER

Ideia Original – Kleyson Barbosa
Roteiro – Cláudia Fusco, Kleyson Barbosa e Raphael Erichsen
Ator – Rodrigo Arijon
Direção – Raphael Erichsen
Direção de fotografia/Câmera – Rodrigo Braga
Montagem – Tiago Berbare
Produção – Amanda Rodrigues
Pós-Produção – Sindicato Filmes
Coordenação de pós-produção – Tiago Berbare
Som Direto/Edição de som – Daniel Téo
Assistente de direção – Clarice Laus
1* assistente de câmera – Bruno Cas
2* assistente de câmera – Fábio Costa
Direção executiva – Edson Bottura
Coordenação executiva – Josi Campos
Assistente de coordenação — Caio Caprioli
Diretor de Redação da Superinteressante — Sergio Gwercman

“Noite Americana”, “Orange Trafic Cones”, “Way back home” e “Afterglow” gentilmente cedidas por Driving Muisc
http://www.driving-music.net

Produção – 3filmgroup.tv
Realização – SUPERINTERESSANTE

Não existe amor em SP (?)

Criolo – voz
Daniel Ganjaman – arranjo de cordas, teclados e guitarra
Marcelo Cabral — arranjo de cordas, baixo e guitarra
Samuel Fraga – bateria
Renato Rossi- viola
Luiz Gustavo Nascimento – violino

Produzido por Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral.

Gravado e Mixado por Daniel Ganjaman no estúdio El Rocha.

Masterizado no estúdio El Rocha por Fernando Sanches

Eu sei, mas não devia

“Eu sei, mas não devia” de Marina Colasanti recitado por Antônio Abujamra no Provocações:

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Ilha das Flores

1989

Música: (“Fantasia sobre O Guarani”, de Geraldo Flach, com Zé Flávio na guitarra)

Direção: Jorge Furtado

Produção Executiva: Monica Schmiedt, Giba Assis Brasil e Nora Goulart

Roteiro: Jorge Furtado

Direção de Fotografia: Roberto Henkin e Sérgio Amon

Direção de Arte: Fiapo Barth

Música: Geraldo Flach

Direção de Produção: Nora Goulart

Montagem: Giba Assis Brasil

Assistente de Direção: Ana Luiza Azevedo

Uma Produção da Casa de Cinema PoA

Elenco Principal:
Paulo José (Narração)
Ciça Reckziegel (Dona Anete)

Pergunte à Cinderela

Juliana Schneider Guterres

Já dizia o poeta “é impossível ser feliz sozinho” – ao que eu sempre concordei sorrindo. Pelo menos, até agora. Quando o meu não-sozinho era passar um par de horas com o namorado do momento e voltar para o meu ambiente protegido (leia-se: a casa de mamãe. Contas pagas, roupas lavadas e guardadas no armário, geladeira cheia, banheiro limpo. A materialidade da vida cotidiana se materializava sozinha, sem que eu precisasse fazer força e, até mesmo, sem que eu me desse conta da sua existência). Sim, é impossível ser feliz sozinho quando se conta com toda a alegria e privilégio de deliberar as tarefas mais nefastas a outrem. Mas, ser feliz juntinho tendo que limpar privada e brigar para decidir quem lava a louça do jantar é uma possibilidade? Existe vida após as tão temíveis obrigações domésticas? Ou ainda, há romantismo que resista ao cotidiano que teima em invadir nossas casas? São essas as perguntas que me faço (e o cagaço que me borra!), na iminência de juntar as escovas de dentes com alguém.

Uma vez ouvi por aí que os clássicos infantis e os felizes para sempre se sustentavam porque a história que nos é contada acaba logo após o beijo. Provavelmente se entrevistássemos a Branca de Neve e a Cinderela alguns anos após o casamento a situação seria diferente. Uma princesa já meio flácida após parir um par de herdeiros com uma narina acostumada às flatulências do príncipe (aliás, aquele senhorzinho gordo e careca sentado no sofá com uma lata de cerveja na mão em nada nos lembra o gentil e amoroso príncipe das páginas anteriores do conto) esbraveja implorando complacência e compreensão do companheiro: “Não joga as tuas roupas no chão, sou eu que vou ter que juntar depois! Dá pra levantar um pouquinho e me ajudar? Olha as crianças enquanto eu esquento o jantar e passo tuas camisas.”

E o que o príncipe nos diria? Talvez que sua esposa viva com dor de cabeça e, ao invés de aconchegar-se no corpo dela, ele procura alívio no banheiro com uma revista de desconhecidas mulheres nas mãos. Que ela olha mais para os filhos do que para ele. Que ela pede ajuda, mas que quando ele a auxilia ela reclama que está tudo errado e diz que sozinha faria melhor. Que o churrasquinho em família dos domingos vira o encontro semanal das mulheres queixosas – cunhadas, primas, sogras e sobrinhas desfiam o rosário de reclamações dos seus tão inúteis maridos. É, elas insistem em apontar suas falhas, mas esquecem-se de elogiar suas qualidades.

Ando pensando que o verdadeiro conto de fadas se faz entre nós, reles mortais. Naquele dia em que ele, sabendo que ela chega do trabalho cansada, se adianta ao preparar o jantar e espera ela na porta sorrindo com uma música suave tocando ao fundo. Ou quando ela, sabendo que é dia de jogo do time dele, resolve não incomodar-se em não ver a novela. Também quando os dois se beijam felizes pela manhã – esquecendo-se de que ela passou a noite puxando as cobertas para cima de si enquanto ele orquestrava uma sinfonia de roncos do seu lado. Ou ainda quando os dois decidem tirar um final de semana a dois e negociam o pouso das crianças nos lares alheios.

Os príncipes e princesas funcionam muito bem para, na infância, nos introduzir no tão necessário mundo do romance, mas aposto que eles não saberiam lidar com o caos pragmático do cotidiano. É preciso ser muito humano para escrever sua própria fábula de felizes para sempre.

A invenção da infância

Os buracos de Passo Fundo

Os postes mijando nos cachorros de novo. Eles não cansam de se superar!

Vereador Roque Letti – Passo Fundo: “Tem buraco, tem. Agora, andar com adesivo achacalhando Passo Fundo… Mas o que que é isso tchê?”.

Cada cabeça, uma sentença. Um salve à interpretação de texto bem feita!

TELEVISION: Look at me

O direito ao delírio – Eduardo Galeano

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