Manifesto pela realidade do sexo

                                                                                                                         Jonas Lewis

    Há tempos atrás algum pedaço de perna era motivo de gozo. Catálogos rebuscados das antigas lojas de lingeries eram a diversão de adolescentes punheteiros. Hoje um rabanete no cu é a normalidade. As esporradas e a penetração de inimagináveis objetos são corriqueiros pelos vídeos que circulam na internet e nas lojas de filmes pornográficos. A mulher toma uma posição absolutamente escrava e o homem faz o que bem entende no momento mágico do ato sexual. A pornografia deturpa a realidade cruel e precisa do sexo comum. E por mais selvagem que se possa praticá-lo, ainda assim os filmes estão longe de se parecerem com a prática do mundo real. Se tentares algo parecido com sua namorada, certamente a relação durará pouco. E calma lá! Não confunda um sexo monótono e sem graça, com um sexo normal, comum, diferente sim daquele sexo circense, quase coreografado dos filmes adultos.

    Assim foi comigo no momento em que descobri o que era o boquete. Anteriormente passava-me pela cabeça que soavam trombetas e que não haviam as raspadas dentárias, tampouco aquela sensação de monotonia quando a mulher também se cansava de chupar-me como tarefa. Nos filmes era tudo tão espetacular! As mulheres deliravam com aquele momento, os homens bufavam como bois, parecendo visitar estrelas ao receberem aquelas chupadas monumentais, molhadas e lubrificadas. Tudo efeito especial! E as gozadas, então? No rosto! Ou dentro da boca, à pedidos da moça, que sedenta implorava pelo líquido prestes a ser engolido por inteiro. Balela! Bem vindos ao mundo real! Esporre na droga da camisinha, quiçá na bunda, nos peitos, mas cuidado com os cabelos da menina! Na boca nem pensar! Se contar as que deixaram, não somam um par durante toda a vida. Ingratas exceções comparadas à rotina delirante do cinema pornô.

    O cu, famoso cu! Esse sim mais apreciado por algumas mulheres, é a única salvação! O mais próximo que chegamos da cena. Tentemos então chegar aos cus! E deixo um apelo para o bem dos futuros homens. Não deixem seus filhos assistirem filmes pornográficos! Não por uma questão moral ou religiosa, mas pelo simples fato de que eles serão enganados por completo. Suas vidas sexuais serão arruinadas para sempre, e nenhuma terapia terá sucesso nessa batalha sem volta. Recortem os anúncios das Lojas Marisa, guardem os folhetos da coleção primavera verão da Renner e deixem em seus banheiros. Não à internet, não aos filmes pornográficos! Seus filhos merecem aproveitar o sexo! Seus filhos merecem conhecer o verdadeiro boquete!

FELIZ NATAL!

 

 

 

Eu, Etiqueta

Em minha calça está grudado um nome

que não é meu de batismo ou de cartório,

um nome… estranho.

Meu blusão traz lembrete de bebida

que jamais pus na boca, nesta vida.

Em minha camiseta, a marca de cigarro

que não fumo, até hoje não fumei.

Minhas meias falam de produtoque nunca experimentei

mas são comunicados a meus pés.

Meu tênis é proclama coloridode alguma coisa não provada

por este provador de longa idade.

Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,

minha gravata e cinto e escova e pente,

meu copo, minha xícara,

minha toalha de banho e sabonete,

meu isso, meu aquilo,

desde a cabeça ao bico dos sapatos,

são mensagens,

letras falantes,

gritos visuais,

ordens de uso, abuso, reincidência,

costume, hábito, premência,

indispensabilidade,

e fazem de mim homem-anúncio itinerante,

escravo da matéria anunciada.

Estou, estou na moda.

É doce estar na moda, ainda que a moda

seja negar a minha identidade,

trocá-la por mil, açambarcando

todas as marcas registradas,

todos os logotipos do mercado.

Com que inocência demito-me de ser

eu que antes era e me sabia

tão diverso de outros, tão mim-mesmo,

ser pensante, sentinte e solidário

com outros seres diversos e conscientes

de sua humana, invencível condição.

Agora sou anúncio,

ora vulgar ora bizarro,

em língua nacional ou em qualquer língua

(qualquer, principalmente).

E nisto me comprazo, tiro glória

de minha anulação.

Não sou – vê lá – anúncio contratado.

Eu é que mimosamente pago

para anunciar, para vender

em bares festas praias pérgulas piscinas,

e bem à vista exibo esta etiqueta

global no corpo que desiste

de ser veste e sandália de uma essência

tão viva, independente,

que moda ou suborno algum a compromete.

Onde terei jogado fora

meu gosto e capacidade de escolher,

minhas idiossincrasias tão pessoais,

tão minhas que no rosto se espelhavam,

e cada gesto, cada olhar,

cada vinco da roupa

resumia uma estética?

Hoje sou costurado, sou tecido,

sou gravado de forma universal,

saio da estamparia, não de casa,

da vitrina me tiram, recolocam,

objeto pulsante mas objeto

que se oferece como signo de outros

objetos estáticos, tarifados.

Por me ostentar assim, tão orgulhoso

de ser não eu, mas artigo industrial,

peço que meu nome retifiquem.

Já não me convém o título de homem.

Meu nome novo é coisa.

Eu sou a coisa, coisamente.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova Reunião: 23 livros de poesia – volume 3. Rio de Janeiro: BestBolso,2009. p 471-473.

PC Siqueira: Fama e Sucesso

A primeira parte do vídeo tá valendo (dica: assistam até 6 minutos). Depois disso, já não era mais o que a gente queria postar… (na preguiça do corte, segue o aviso! kkkkk)

Criança, a alma do negócio

 Criança, a alma do negócio (Brasil)

Por que meu filho sempre me pede um brinquedo novo? Por que minha filha quer mais uma boneca se ela já tem uma caixa cheia de bonecas? Por que meu filho acha que precisa de mais um tênis? Por que eu comprei maquiagem para minha filha se ela só tem cinco anos? Por que meu filho sofre tanto se ele não tem o último modelo de um celular? Por que eu não consigo dizer não? Ele pede, eu compro e mesmo assim meu filho sempre quer mais. De onde vem este desejo constante de consumo?Este documentário reflete sobre estas questões e mostra como no Brasil a criança se tornou a alma do negócio para a publicidade. A indústria descobriu que é mais fácil convencer uma criança do que um adulto, então, as crianças são bombardeadas por propagandas que estimulam o consumo e que falam diretamente com elas. O resultado disso é devastador: crianças que, aos cinco anos, já vão à escola totalmente maquiadas e deixaram de brincar de correr por causa de seus saltos altos; que sabem as marcas de todos os celulares mas não sabem o que é uma minhoca; que reconhecem as marcas de todos os salgadinhos mas não sabem os nomes de frutas e legumas. Num jogo desigual e desumano, os anunciantes ficam com o lucro enquanto as crianças arcam com o prejuízo de sua infância encurtada. Contundente, ousado e real este documentário escancara a perplexidade deste cenário, convidando você a refletir sobre seu papel dentro dele e sobre o futuro da infância.

Direção: Estela Renner

Produção Executiva: Marcos Nisti

Maria Farinha Produções

Maiores informações em:

http://www.alana.org.br/doc.3gp

 

Fonte original: http://www.alana.org.br/CriancaConsumo/Biblioteca.aspx?v=8&pid=40

Eu sei, mas não devia

“Eu sei, mas não devia” de Marina Colasanti recitado por Antônio Abujamra no Provocações:

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Ilha das Flores

1989

Música: (“Fantasia sobre O Guarani”, de Geraldo Flach, com Zé Flávio na guitarra)

Direção: Jorge Furtado

Produção Executiva: Monica Schmiedt, Giba Assis Brasil e Nora Goulart

Roteiro: Jorge Furtado

Direção de Fotografia: Roberto Henkin e Sérgio Amon

Direção de Arte: Fiapo Barth

Música: Geraldo Flach

Direção de Produção: Nora Goulart

Montagem: Giba Assis Brasil

Assistente de Direção: Ana Luiza Azevedo

Uma Produção da Casa de Cinema PoA

Elenco Principal:
Paulo José (Narração)
Ciça Reckziegel (Dona Anete)

Pergunte à Cinderela

Juliana Schneider Guterres

Já dizia o poeta “é impossível ser feliz sozinho” – ao que eu sempre concordei sorrindo. Pelo menos, até agora. Quando o meu não-sozinho era passar um par de horas com o namorado do momento e voltar para o meu ambiente protegido (leia-se: a casa de mamãe. Contas pagas, roupas lavadas e guardadas no armário, geladeira cheia, banheiro limpo. A materialidade da vida cotidiana se materializava sozinha, sem que eu precisasse fazer força e, até mesmo, sem que eu me desse conta da sua existência). Sim, é impossível ser feliz sozinho quando se conta com toda a alegria e privilégio de deliberar as tarefas mais nefastas a outrem. Mas, ser feliz juntinho tendo que limpar privada e brigar para decidir quem lava a louça do jantar é uma possibilidade? Existe vida após as tão temíveis obrigações domésticas? Ou ainda, há romantismo que resista ao cotidiano que teima em invadir nossas casas? São essas as perguntas que me faço (e o cagaço que me borra!), na iminência de juntar as escovas de dentes com alguém.

Uma vez ouvi por aí que os clássicos infantis e os felizes para sempre se sustentavam porque a história que nos é contada acaba logo após o beijo. Provavelmente se entrevistássemos a Branca de Neve e a Cinderela alguns anos após o casamento a situação seria diferente. Uma princesa já meio flácida após parir um par de herdeiros com uma narina acostumada às flatulências do príncipe (aliás, aquele senhorzinho gordo e careca sentado no sofá com uma lata de cerveja na mão em nada nos lembra o gentil e amoroso príncipe das páginas anteriores do conto) esbraveja implorando complacência e compreensão do companheiro: “Não joga as tuas roupas no chão, sou eu que vou ter que juntar depois! Dá pra levantar um pouquinho e me ajudar? Olha as crianças enquanto eu esquento o jantar e passo tuas camisas.”

E o que o príncipe nos diria? Talvez que sua esposa viva com dor de cabeça e, ao invés de aconchegar-se no corpo dela, ele procura alívio no banheiro com uma revista de desconhecidas mulheres nas mãos. Que ela olha mais para os filhos do que para ele. Que ela pede ajuda, mas que quando ele a auxilia ela reclama que está tudo errado e diz que sozinha faria melhor. Que o churrasquinho em família dos domingos vira o encontro semanal das mulheres queixosas – cunhadas, primas, sogras e sobrinhas desfiam o rosário de reclamações dos seus tão inúteis maridos. É, elas insistem em apontar suas falhas, mas esquecem-se de elogiar suas qualidades.

Ando pensando que o verdadeiro conto de fadas se faz entre nós, reles mortais. Naquele dia em que ele, sabendo que ela chega do trabalho cansada, se adianta ao preparar o jantar e espera ela na porta sorrindo com uma música suave tocando ao fundo. Ou quando ela, sabendo que é dia de jogo do time dele, resolve não incomodar-se em não ver a novela. Também quando os dois se beijam felizes pela manhã – esquecendo-se de que ela passou a noite puxando as cobertas para cima de si enquanto ele orquestrava uma sinfonia de roncos do seu lado. Ou ainda quando os dois decidem tirar um final de semana a dois e negociam o pouso das crianças nos lares alheios.

Os príncipes e princesas funcionam muito bem para, na infância, nos introduzir no tão necessário mundo do romance, mas aposto que eles não saberiam lidar com o caos pragmático do cotidiano. É preciso ser muito humano para escrever sua própria fábula de felizes para sempre.

A invenção da infância

TELEVISION: Look at me

Churrascaria – Rafinha Bastos

 

O que acontece quando um comediante resolve ir à uma churrascaria e fica sujeito às tentações da carne?

Come ou não come?

com Rafinha Bastos, Fernando Muylarert e Rodrigo Fernandes

Rafinha Bastos é um homem bom

Jonas Lewis

Pronto. A censura voltou. Dão pulos de alegria os órfãos da SNI, os resíduos de carrascos que assolam a possibilidade e a capacidade de um país engendrar sua arte. Obti a triste notícia de que nesta segunda-feira, o comediante Rafinha Bastos não estará, como de costume, na bancada do CQC, programa que apresenta junto a Marcelo Tas e Marco Luque. Não gosto de Stand-Up, apesar de certa vez ter ido ao show de Rafinha e conseguido rir sem parar. Não assisto ao CQC assíduamente, apesar de já ter arrumado motivos para me divertir com o programa. O que assusta e traz a certeza de estarmos vivendo como uma espécie de manequim estético que desfila na passarela, expondo tendências contraditórias e somando décadas que se entrelaçam fazendo terríveis estragos à mente humana, é que censuramos e caçamos práticas comuns e banais como compras de fim de mês.
O comediante Rafinha foi censurado por causa de seu trabalho. Por causa de sua arte. Ou melhor, por causa de uma piada. Uma frase. Pergunto-me a que valor moral estamos atribuindo criações. Não ando aqui em defesa de alguém. Ando em defesa de algo. Quero salvar a nudez do devaneio, a pureza do pensamento, e acima de tudo soltar aos ares talvez o clichê mais importante de todos os tempos, chamado liberdade. Não vou entrar em conceitualizações da filosofia e engodos acadêmicos, só almejo que os brucutus não continuem brucutus, e que consigam, por fim, apenas aceitar o que é a arte e o que é o humor. Não peço nem que compreendam pois seria demasiada complexidade. Humor é destruição. Arte é destruição. E mesmo que se construa, ou que o próprio corpo exale a beleza na forma mais pura e menos discutível, derstruímos a possibilidade da realidade, assassinamos o pragmatismo da existência carnal e partimos à metafísica pura. São regras burlando regras, que tão burláveis, podem inclusive voltar a ser o que eram, e não saírem do lugar, sendo o nada que sempre foram. O humor é ferramenta, conserto e o que se conserta. É perverso e ácido como o artista que destrói afim de construir outra vez. Sem a lágrima de um oponente qualquer, sem o sofrimento fingido de um ser ou de uma situação, não há humor, não há riso ou gargalhada.
Rafinha é um homem bom. Um artista virtuoso e destruidor. O talento se destacando no veículo que degrada a cada minuto a juventude e a infância de um país chamado Brasil. Fez uma piada com um bebê e uma menina grávida. Temas pontiagudos frente a uma sociedade de óculos. Palavras que causam o levantamento ético das sobrancelhas da censura pobre e agora, tão poderosa. Gravidez, menina e bebê. Nossos cérebros de um século XXI atolado em uma moral provisória baseada na culpa pelo que fizemos e pelo que faremos relaciona tudo isso com a pedofilia (condenação da moda), com o estupro, com a monstruosidade, com a doença humana. Sem querer esqueçemos, ou fingimos conscientes, que assistimos à novelas sub-humanas, expomos os pequenos à delitos absurdos e aturamos atos inconsequentes 24 horas por dia. E isso não é arte. E não tem graça nenhuma.

Rafinha Bastos fora do CQC

O humorista Rafinha Bastos não estará na bancada do “CQC”, da Band, na noite desta segunda-feira (3) e nem nas próximas semanas. A emissora decidiu tirá-lo no ar após a repercussão negativa de piadas feitas recentemente e consideradas de mau gosto.

A gota d’água foi a piada feita na semana passada sobre a gravidez de Wanessa Camargo. “Eu comeria ela e o bebê”, afirmou Rafinha.

De acordo com fontes ouvidas pela Folha, uma “grande surpresa” está sendo preparada para amanhã.

A decisão foi tomada agora há pouco pela cúpula da emissora na França. Eles estão no país para participar da Mipcom, feira de audiovisual que começa amanhã em Cannes.

Na última sexta (30), um dos companheiros de Rafinha no “CQC”, Marco Luque –amigo de Marcus Buaiz, marido de Wanessa–, divulgou nota sobre o caso em que reprova a piada do colega.

“Sobre a piada feita pelo Rafinha Bastos, no programa ‘CQC’ que foi ao ar no dia 19 de setembro, eu, como pai, entendo e apoio a revolta e a indignação do Marcus Buaiz, um homem que conheço e respeito. Se fizessem uma piada com este contexto sobre a minha família, certamente ficaria ofendido. Com certeza uma piada idiota e de muito mau gosto.”

 

Publicado em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/984550-rafinha-bastos-estara-fora-do-cqc-nesta-segunda.shtml

Lutas.doc – O que vem por aí?

Lutas.doc faz uma reflexão profunda sobre a história da sociedade brasileira e o papel da violência na formação do povo. Dirigido por Luiz Bolognesi e Daniel Augusto, o documentário tem um ritmo dinâmico e utiliza recursos de animação, trechos de filmes, informação, entrevistas e análise. Os cinco episódios combinam densidade de reflexão com linguagem acessível, uma atração especial para o público jovem.

Grandes pensadores brasileiros, personalidades da política e da cultura do país, além de outros cidadãos, abordam várias facetas da violência no Brasil. Os depoimentos são intercalados por desenho animado. Essa animação é fruto do trabalho diário de uma equipe de 60 profissionais e levou três anos para ser produzido. Com um olhar crítico e ousado, duas dezenas de entrevistados passam em revista a história da sociedade brasileira. Entre eles, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e  Fernando Henrique Cardoso.

Lutas.doc – Heroína sem Estátua

A luta das mulheres pela igualdade de direitos na sociedade brasileira é o tema desse capítulo

Heroína sem Estátua é o quarto episódio da série Lutas.doc. A luta das mulheres pela igualdade de direitos na sociedade brasileira é o tema desse capítulo. “A evolução das mulheres anda a passos largos”, afirma o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um dos entrevistados do programa. Mas nem sempre foi assim. Lutas.doc analisa as batalhas femininas para alcançar conquistas como o direito ao voto, sua inserção na política e no mercado de trabalho.

Na avaliação do historiador Pedro Puntoni, toda revolução histórica é marcada por conflitos e, no caso da questão feminina, o papel da rebelião foi fundamental nesse processo.“A rebeldia transforma a história”, analisa. Ele conclui que, na política, o brasileiro ainda é muito conservador e a visão machista perdura nas grandes decisões. A professora de filosofia da USP, Olgária Matos, também opina sobre o assunto e declara que na política o que vence a eleição é o marketing eleitoral e não os bons projetos. “A política se converteu em prestação de serviços”, comenta Olgária.

Mesmo com todo o avanço das mulheres, a série constata que apenas 9% das prefeituras brasileiras são ocupadas por elas. Outro índice que ainda é um diferencial são os salários: 40% menor do que os dos homens que ocupam a mesma função. Uma das representantes da mulher na política, a senadora Marina Silva (PV-AC) reconhece o rápido aprendizado das mulheres com os homens. E garante que “se os homens não aprenderem com elas terão um grande prejuízo”.

Entre pensadores, políticos e representantes dos movimentos sociais que participam do programa estão o historiador Pedro Puntoni, o psicanalista Contardo Calligaris, a sub-prefeita da Lapa em São Paulo, Soninha Francine; o escritor Ferrez, a professora de filosofia- USP, Olgária Matos; o líder do MST, João Pedro Stédile, a professora Esther Hamburger, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a senadora Marina Silva, a filosófa e apresentadora Márcia Tiburi e a jornalista e ex-moradora de rua Esmeralda Oritiz.

Lutas.Doc é uma parceria da TV Brasil com a Gullane e Buriti Filmes.

Roteiro e Direção Daniel Augusto e Luiz Bolognesi

Produção Caio Gullane, Fabiano Gullane, Laís Bodanzky e Renata Galvão

Lutas.doc – Fábrica de verdades

Terceiro episódio da série Lutas.doc

O programa vai aborda a importância da mídia e da teledramaturgia para a sociedade brasileira. O papel da televisão está entre os temas da discussão feita com pensadores, políticos e representantes de movimentos sociais.”Se você imagina que são as novelas que fazem a educação do brasileiro… É uma inversão de princípio e de realidade. Impressionante”, diz a professora de filosofia, Olgária Matos.

Com a mesma preocupação, a filósofa Marcia Tiburi ressalta que o telespectador tem de ser ajudado. “É uma função pedagógica que deveria estar embutida nos meios de comunicação”, afirma. “Isso é uma coisa tão assustadora. Quem não aprende a ler, não aprende a pensar discursivamente. E quem não aprende a pensar discursivamente, não aprende nem a ouvir nem a falar. Como nós poderíamos constituir uma democracia sem o aprendizado da conversação?”, indaga a filósofa.

“Estamos em um país em que as pessoas não são alfabetizadas”, diz o escritor Ferrez. Da mesma opinião, o jornalista Gilberto Dimenstein constata: ” Em São Paulo, se você pega as pessoas formadas no ensino médio, 5% apenas têm conhecimento adequado para ler e escrever. Lamento, eu não consigo ver violência maior do que uma pessoa chegar ao final da sua adolescência e não saber ler nem escrever. Não consigo ver quantas violências são maiores do que essa. Mas ninguém liga. E não causa comoção, não causa nenhum escândalo, não causa uma indignação nacional”.

Além de depoimentos de pensadores brasileiros e imagens de animação, Fábrica de Verdades apresenta cenas dos filmes Cidade dos Homens, de Paulo Morelli, e Quase Dois Irmãos, de Lucia Murat.

Participam deste episódio a filósofa Marcia Tiburi; a professora de filosofia Olgária Matos; a professora de comunicação Esther Hamburger; o jornalista Gilberto Dimenstein; o pensador José Júnior, do AffroReggae; os historiadores Pedro Puntoni e Leandro Karnal; a sub-prefeita da Lapa em São Paulo, Soninha Francine; o escritor Ferrez; o líder do MST, João Pedro Stédile; o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; e Lisa Gunn, do Instituto de Defesa do Consumidor.

Lutas.Doc é uma parceria da TV Brasil com a Gullane e Buriti Filmes.

Roteiro e Direção Daniel Augusto e Luiz Bolognesi

Produção Caio Gullane, Fabiano Gullane, Laís Bodansky e Renata Galvão.

Mais em: http://tvbrasil.org.br/lutasdoc/

 

Lutas.doc – Recursos Humanos

Um paralelo entre as vítimas das guerras brasileiras e o uso da mão de obra

“O Brasil não pode ser entendido sem a compreensão da escravidão”, diz a professora Laura de Mello e Souza, em entrevista ao segundo episódio da série Lutas. Doc.  Recursos Humanos enfoca como era a vida dos escravos no Brasil e como eles foram tratados pelas outras classes sociais. Os escravos foram libertados no país em 1888.

Muitos historiadores notáveis, economistas e, até dois ex-presidentes, falam sobre a escravidão que teve efeitos sobre a história do Brasil. O ex-presidente Lula discute como a elite do Nordeste queria libertar os escravos em 1817, na Revolução  Pernambucana. Mas,  muitos setores das classes superiores opuseram porque temiam que os escravos se revoltassem.

“Nunca houve uma preparação intelectual dos escravos no Brasil, como aconteceu nos Estados Unidos com a Guerra Civil”, observa o historiador Eduardo Gianetti. “Levamos mais de um século para integrar escravos na força de trabalho, mas não devemos ser orgulhosos, devemos ter vergonha.”

Na tela da TV Brasil, uma reflexão que traça o paralelo entre as vítimas das guerras brasileiras e o uso da mão de obra. Os entrevistados questionam também quem é a elite brasileira e como se dá, e ainda se existe democracia racial no país.Alguns destacam os fenômenos que produziram a escravidão como um “negócio” e seus reflexos na atualidade. Analisam e refletem sobre como mecanismos sofisticados que mantêm dezenas de milhões de trabalhadores como reserva de mão de obra barata ao longo dos séculos.

  Para chegar ao significado de “trabalho”, os depoimentos costuram hipóteses para compreender como funciona o aparelho ideológico que legitima a vida de trabalhadores que ontem estavam em navios negreiros e aldeamentos jesuítas, mas hoje aceitam trafegar em ônibus lotados do trabalho às moradias em bairros de periferia das cidades. Comentam a eficiência dos discursos que, ao transformar escravos em “recursos humanos”, reduz o impacto da linguagem e legitima a realidade, diminuindo a percepção de violência.

 Além do sociólogo Luis Mir, falam neste programa, o psicanalista Contardo Calligaris, o economistaEduardo Giannetti, a professora de filosofia Olgária Matos, o jornalista Gilberto Dimenstein, o pensador José Júnior, do AffroReggae; os historiadores John MonteiroPedro Puntoni e Laura de Mello e Souza, a vereadora Soninha, a escritora e ex-moradora de rua Esmeralda Ortiz, a ex-senadora Marina Silva, além dos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso.

Você não vai querer perder este episódio que mostra um olhar honesto da história brasileira e como as classes sociais e a escravidão  têm interagido ao longo dos anos para moldar o Brasil no país que é hoje.

Mais em: http://tvbrasil.org.br/lutasdoc/noticias/

Lutas.doc – Guerra sem fim?

A série Lutas.doc, que faz uma reflexão profunda sobre a história da sociedade brasileira e o papel da violência na formação do povo. Dirigido por Luiz Bolognesi e Daniel Augusto, o documentário tem um ritmo dinâmico e utiliza recursos de animação, trechos de filmes, informação, entrevistas e análise. Os cinco episódios combinam densidade de reflexão com linguagem acessível, uma atração especial para o público jovem.

Grandes pensadores brasileiros, personalidades da política e da cultura do país, além de outros cidadãos, abordam várias facetas da violência no Brasil. Os depoimentos são intercalados por desenho animado. Essa animação é fruto do trabalho diário de uma equipe de 60 profissionais e levou três anos para ser produzido. Com um olhar crítico e ousado, duas dezenas de entrevistados passam em revista a história da sociedade brasileira. Entre eles, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e  Fernando Henrique Cardoso.

Os diretores da série propõem um grande debate e tentam contar a história do Brasil que não se aprende nas escolas.

Guerra sem fim – Este primeiro episódio mostra a história da violência no Brasil, a presença da luta desde antes da chegada dos colonizadores, ou seja, é uma constante na história nacional.. Mesmo antes da chegada dos europeus, as nações indígenas tinham a guerra no centro de suas culturas. São enfocados conflitos pouco conhecidos, massacres, e revistos fatos históricos à luz de um olhar crítico, que questiona a história oficial com argumentos e insights.

O mito e o senso comum, segundo o qual o brasileiro é um homem cordial, está no debate, bem como a tese de que o país é um paraíso pacífico e abençoado por Deus. São entrevistados neste episódio: os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso, a ex-senadora Marina Silva, o escritor Ferréz, índios Guarani-Kaiowá, o jornalista Gilberto Dimenstein, o líder do MST João Pedro Stédile, os historiadores John Monteiro, Laura de Mello e Souza, Pedro Puntoni e Leandro Karnal, o sociólogo Luis Mir e a filósofa Márcia Tiburi.

Lutas. Doc é uma produção da Gullane e da Buriti Filmes.

Mais informações em: http://tvbrasil.org.br/lutasdoc/noticias/

Posso ser seu amigo?

11 de setembro

Outras cenas. Outros atores. Outro ano. Mesmo dia.

Jogo da Vida ou Seu bode comeu orquídeas premiadas. Pague $ 3.000

Já que o tempo é de se reler, publico de novo este texto – de tanto que gosto. Não me canso de ler. Espero que vocês apreciem (sem moderação!) tanto quanto eu!

Juliana Schneider Guterres

DENTRO SEM FORA

A vida está

dentro da vida

em si mesma circunscrita

sem saída.

Nenhum riso

nem soluço

rompe

a barreira de barulhos.

A vazão

é para o nada.

Por conseguinte

não vaza[1]

Quarta-feira. Nossa sessão começa sempre por volta das três da tarde. Sol. Chuva. Tem dias que faz frio, noutros o calor é escaldante. Passam-se dias, semanas, meses, mas o jogo é sempre o mesmo. O Jogo da Vida. O ritual tampouco muda. Ele entra na sala, senta-se calado. Pergunto como ele está. Silêncio. Como foi a semana. Silêncio. (Às vezes tenho vontade de parar de perguntar.) Passam-se alguns minutos, ele me olha e diz “vamos jogar. O jogo, aquele”. Vai até o armário, pega a caixa. Sentamos no chão. Abrimos a caixa, montamos o tabuleiro, distribuímos as notas coloridas de dinheiro, escolhemos a cor dos nossos carros e aconchegamos neles nossos eus-bonecos – segundo as instruções do jogo, bonecos rosa são para meninas, azuis para meninos. Quem tira o número mais alto na roleta, começa o jogo e parte para gerir sua vida, agora estampada (e capturada) naquele tabuleiro.

De início só se abrem duas possibilidades: fazer faculdade ou não fazer. Se fizer, a sorte vai dizer se você será médico, advogado, engenheiro, artista, professor ou terá somente um diploma universitário. O salário varia de acordo com a profissão. Se não fizer, não fez. O caminho é mais curto, assim como o salário. Daí em diante, todas as vezes em que passar pela casa “Dia do pagamento” você receberá seu salário. Mas muita atenção! Você perderá o salário se esquecer de recebê-lo antes que o próximo jogador gire a roleta.

Nas rodadas seguintes, o dia do casamento (receba os presentes!). Parada obrigatória. Todo mundo é obrigado a casar? No jogo da vida, sim. E até que a morte ou o fim do jogo os separe, porque, mesmo que procure em todo o tabuleiro, você nunca encontrará a casa “Divórcio. Pague $ 30.000”. Assim, o mesmo cônjuge-boneco e um punhado de filhos-bonecos (receba os presentes!) – que, fatalmente, você terá – te acompanharão até as últimas casas. (Lembrando, papai-boneco e mamãe-boneco sentados na frente do carro, azul e rosa, respectivamente, sem possibilidade de alteração. Filhos-bonecos no banco de trás. Bicolores, azul para meninos, rosa para meninas, mais uma vez, nenhuma possibilidade de alteração – nem da cor, nem da estrutura familiar.) No final do jogo, cada filho-criança-boneco será trocado por $ 48.000. E o cônjuge-boneco? Este não lhe serve mais pra nada. Talvez vocês possam se encontrar em uma próxima partida.

Segue o jogo. “Você precisa de dentadura. Pague $ 2.000”. “Herança. Receba $ 30.000”. Quem morreu? O jogo não menciona, mas há se ser parente próximo. Aceite, assim você poderá pagar ao dentista pela dentadura. “Seu iate bateu em um icebergue. Venda cubos de gelo e receba $ 10.000”. “Seu bode comeu orquídeas premiadas. Pague $ 3.000”. Bode?! “Ganhou Prêmio Nobel. Receba $ 120.000”. “Ganhou reality show! Receba $ 200.000”. Quanta versatilidade!

Mais rodadas. “Titia deixou 50 gatos. Pague $ 20.000 para os cuidados”. “Ajude a Arara Azul a não entrar em extinção. Pague $ 220.000”. “Comprou 2 cavalos. Pague $ 60.000”. A bicharada levou todo nosso dinheiro.

E a roleta segue girando, trazendo nossa recuperação. “Achou tesouro antigo no quintal. Receba $ 24.000”. “Descobriu Atlântida enquanto fazia pesca submarina. Receba $ 12.000”. “Achou obra de arte! Receba R$ 120.000”.

Quem ganha o jogo da vida? Segundo o manual de instruções, se ninguém se tornar magnata, o jogo termina quando o último jogador for à falência ou se tornar um milionário. Todos os jogadores, então, contam seu dinheiro, quem tiver mais, vence. Simples assim.

Ou não.

E se você não fosse milionário? E se tampouco fosse à falência? E se você não quisesse balizar sua vida pelo saldo da sua conta bancária? E se as meninas passassem a usar azul, resolvessem não se casar? E se os meninos quisessem namorar outros meninos? E se passássemos a andar a pé? E se algumas crianças não tivessem família? E se algumas famílias não tivessem criança? E se não existissem famílias? E se existisse vida para além do tabuleiro?

Sigo sem entender o bode. Assim como a vida capturada em um tabuleiro.

Jogo da vida, vidas em jogo. A vida, no jogo, não vaza.


[1] GULLAR, Ferreira. Toda poesia Toda poesia (1950-1999). 18ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009. p. 393.

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