Foda-se o seu modelito musical

Jonas Lewis

Jazz, Rock’n Roll, Blues, Techno, House, Electro, suas bifurcações e subdivisões, o tão chamado Samba de Raiz, a música erudita, tudo encaixa-se perfeitamente no chamado bom gosto musical da classe média branca e ascendente. O brasileiro escuta de tudo o que o exterior põe em suas mesas, em suas caixas de som, e o pior, em seus I-Pods. Invenções repetitivas vindas da Suécia, modernismos antigos do velho Reino Unido, rocks americanos monótonos, estourando a tolerância ao 4X4 duro. Vindo da juventude, não me espanta que não conheçam nem os clichês da Tropicália, ou as velhas baladas de boteco do Djavan. Caetano Veloso, Chico Buarque, para não aprofundar-se na possibilidade brasileira de fazer música, são como coadjuvantes de dois ouvidos contaminados pela língua inglesa, pela vã poesia e pelos significados vazios. Ainda conhecem os gigantes. Ufa! Led, Doors e Stones. Pink Floyd continua eterno, mas incompreendido, visto que sua audição dá-se através de certa obrigação frente às necessidades sociais. E aí que me refiro. Obrigações fazem opiniões, e opiniões tomam o lugar da verdade.
O único espelho verdadeiro que a humanidade possui é sua música. Não há povo que não tenha seus batuques, suas melodias e sua sonoridade. Isso é importante de se compreender. A música é o reflexo de um povo, e melhor, é o âmago de um povo. Sua essência na forma mais pura, posta em acordes, palavras, ritmos, timbres e intensidades. Na música não há o feio. Há sim a falta de trabalho, o esquecimento de que fazer música é filosofar sem saber que se está filosofando. Existe sim a falta de inventividade, criatividade e inspiração. Há também a busca pela grana, é claro. Mas isso é outra história.
Confunde-se muito a estética de um povo, seus rituais e sua linguagem, com uma espécie de necessidade social de diferenciar-se daquilo, negando sua qualidade. Tente defender o Funk Carioca frente a um grupo de pessoas numa escola particular. Os argumentos serão cuspe na fogueira, frente a incapacidade de compreender sua estética, sua verdadeira essência. Falta aos críticos de plantão a capacidade de fazer certas análises, como:

– De onde vem essa música?
– Como é esse lugar?
– Quando foi pensada?
– Por quem foi pensada?
– Existe TRABALHO aí? Existe ARRANJO, COMPOSIÇÃO, PENSAMENTO, BUSCA, SONORIDADE, CARA?

Essas são as 5 perguntas principais que se deve fazer ao deparar-se com um trabalho musical. Quem dera as fizesse quem rechaça movimentos musicais como o Funk Carioca e o Calypso. Pobres ouvintes de repetições, viciados num mundo onde a própria inovação é limitada. Escutam mastigações musicais de movimentos antigos e fazem pouco caso de novidades interessantes e grandiosas. Usam música como roupas, baseados em classes sociais e aceitações dentro do grupo. Como escutarei Pagode se meus amigos odeiam com todas forças? Como direi que aquela batida do Funk me encanta? Como assumirei que a putaria nas letras me é agradável? Nem isso podem entender os críticos! O que esperam da música que cresceu junto do crime, da diversão sexual e da marginalidade? Ela precisa ter essa CARA! Essa é a VERDADE de uma música. Não são poemas parnasianos e versos pomposos. É poesia do povo, da juventude marginalizada que precisa chocar o asfalto.
O que esperam do Calypso de Belém do Pará? Querem a melancolia islandesa, ou o bucolismo neozelandês? Não será assim. A Joelma, vocalista do grupo, representa as mulheres de Belém do Pará com perfeição. As letras falando de casos de amor, a breguiçe espontânea, essa é a VERDADE nua e crua de um povo que faz uma música lotada de personalidade, qualidade e inventividade. Além de revelar um grande poder de arranjos e músicos fenomenais no palco.
Portanto, foda-se sua bandinha de rock! Foda-se seu cover dos Beatles, suas composições que parecem já ter sido feitas dez milhões de vezes por outras pessoas. Foda-se sua inverdade musical, sua necessidade existencial de permanecer intacto num grupo de pessoas proibidas de apreciarem movimentos artísticos. Vocês são a vergonha da arte. Vocês são o atraso da apreciação musical. Vocês envergonham a classe dos músicos e da platéia, que deveria estar insaciável, doida por novas possibilidades, novas sonoridades. Foda-se sua mistura de bossa-nova com drum’n bass, foda-se seu tango eletrônico, foda-se também seu electrozinho cantado por uma mulher de voz fina. Foda-se seu funkinho romance de boteco, seus arranjos “pizza congelada”. Comecem a prestar atenção no gueto. É de lá que vem o futuro. A inovação vem de baixo. Há muito tempo a classe média deita-se em todos sentidos numa nuvem imunda chamada comodidade, e os ricos assumem seu papel de teto. Não se esqueçam do Brasil! Não se esqueçam que música não é bolsa nem camisa. E como disse Jorge Ben: “O belo pode ser simples e o simples pode ser belo”.

4 Comentários (+adicionar seu?)

  1. .
    set 10, 2011 @ 01:29:19

    Foda-se você!
    Do funk carioca só sai bosta! FATO!

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  2. Jonas Lewis da Costa Franco
    set 13, 2011 @ 19:20:56

    Então não ouça Funk Carioca e continue achando que está fazendo grande coisa a sua cabeça imensamente boçal e artísticamente minúscula.

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    • Saulo Augusto Duarte
      mar 22, 2013 @ 08:55:37

      Foda-se, babaca, se você gosta desse lixo de música, azar o seu, você é uma daquelas pessoas retardadas que só ouvem porcaria mesmo. Axé, Rock, Hip Hop, Funk Americano e Pagode são músicas de verdade comparados a essa B$s7@!!

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  3. Gaby
    set 20, 2011 @ 22:05:28

    Adorei esse artigo. Vou defender o funk no meu colégio, onde só tem riquinho. Ninguém nunca viu a realidade dos pobres e muito menos sabem que a musica é uma das poucas formas que eles têm para se divertirem e distrairem.

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